
Elas pareciam então estar à passeio no meio do ambiente surrealista e inócuo daquele lugar que à primeira vista parecia assustador, mas elas pareciam estar num maravilhoso jardim de onde os pássaros cantam sob a luz do dia, e que ali, uma pequena carícia de águas transparentes sobre toda a extensão do jardim. Talvez elas estivessem imaginado algo arrebatador, que pudesse trazer uma paz. Mas ali não havia nenhum jardim, nenhum pássaro e muito menos a luz solar. Nem ao menos a luz da lua para dizer que não foi tão ruim assim. Nem mesmo as águas vivificantes daquele jardim. Havia nada mais, nada menos do que uma enorme parede de concreto, as amendoeiras imundas de poluição urbana, o barulho dos carros, um céu noturno e nublado e uma vala suja e fedorenta do Canal do Mangue.
O rapaz apenas busca algo para chegar em casa, jantar, sentir a avidez pélvica e dormir para no próximo dia chegar mais cedo ao trabalho. Ele está preso à rotina e simplesmente quer sair. Mas sair como? Ele não encontra mais meios de sair da prisão de conveniência. A conveniência cria uma rotina cruel, assustadora, humilhante e excludente. E para piorar todas as coisas, teria que mostrar para os gerentes desta conveniência de que tudo está bem. Mas estes mal sabem que também são prisioneiros da conveniência como este pobre e lutador rapaz.
Assim, chego à Rodoviária Novo Rio, pego um ônibus para Nilópolis e termino de escrever este pensamento noturno que norteia todos os dias depois das dez. Um pensamento que questiona o dia de hoje, o dia de ontem e o dia de amanhã, buscando uma solução para mudar a sua vida.