Mergulhando no Precipício

postado em: Prosa, Sentido da Vida | 1
Dentro do precipício nada faz sentido, a não ser o fim...
Dentro do precipício nada faz sentido, a não ser o fim…

Era uma vida agitada e desconcertada, que nos faz pensar que, uma vida marcada por sonhos e muitos sonhos, sonhos que nunca se acabam. Mas era uma vida de muitos amigos, uma vida de completa felicidade, uma pessoa dócil, cheio de amor e temente à Deus. Seguia cegamente às doutrinas religiosas e às convenções da família, sendo pessoa feliz e obediente na família. E assim construía e fazia seus planos, sonhava com um mundo melhor, uma vida cheia de flores e maravilhas, uma vida onde todos podem sonhar e viver como irmão de verdade, onde não há violência, não há dor, não há mentiras…

Só que com o passar do tempo, a pessoa passa a crescer, e percebe que as pessoas não são boas como no mundo ideal, as pessoas são más, cruéis. E seus grandes amigos de infância, hoje são seus piores inimigos, construindo um inferno sem fim para a sua vida, tornando uma vida de miséria. Essas pessoas não existem mais na sua vida, não existem mais no seu coração. Um a um, vai eliminando, vai se deteriorando, se machucando à cada golpe de pessoas que você tinha grande admiração e respeito, que tinha muita consideração e apego, e assim é a vida. Logo, com o passar do tempo, você percebe que está solitário, está só, percebe que não há ninguém ao seu lado. A solidão agora é sua companheira, estando contigo em todos os momento de sua vida, ate mesmo na sua vida em família.

Ah, família, uma família que ninguém quer te ouvir, só sabe cobrar, exigir e humilhar. Não de pode cometer nenhuma falha ou deslize. Não se pode nem respirar. Não tem amigos, sua família não te respeita como tal, e você aí, mergulhado nessa fábrica de monstros. Percebe o quão engraçado que seus amigos de infância, que compartilhava sonhos junto contigo, hoje fingem que você nem existe. Você é um exilado em sua própria casa, você tem casa, tem uma família, mas não tem lar, nem amigos. Aqueles que você a considera amigo, bem como aqueles que se dizem seus amigos, logo mais tarde irão puxar o seu tapete, roubando todos os seus sonhos e ainda rindo de sua desgraça, pisando e humilhando até o fim.

Onde foram os sonhos? Onde foram os desejos de um mundo melhor, um mundo igualitário, onde todos são irmãos, onde não há dor, nem ranger de dentes? Onde foram tantos planos que foram até mesmo iniciado com ânimo. Onde foram os desejos, onde foram? Onde você foi? Onde foi a sua vida? Você agora é um cadáver vivo, um zumbi no meio de tantas pessoas vazias, em ruas cheias de pessoas vazias, num vazio profundo, no limbo dos sentimentos, sonhos perdidos, sentimentos feridos, orgulhos machucados e sem pena. Quando você tenta realizar um simples sonho, aparecem milhares de pessoas para impedir que esse sonho se realize, mas quase ninguém tem tempo pra te apoiar. Quando você comete um erro, aparecem milhares de pessoas pra te julgar, criticar e condenar, mas quase ninguém tem tempo para perdoar, amar e educar. Quando você passa necessidade, aparecem milhares de pessoas para rirem da sua desgraça, mas quase ninguém tem tempo para te ajudar. Que mundo é esse que vivo? O que estou fazendo aqui? Eu sou o maligno, eu sou do mal? Por que há tanta injustiça nesse mundo?

Então não me resta nada, a não ser mergulhar neste precipício, um buraco profundo, onde quase mal dá pra ver o fundo. Ali foram jogados os meus sonhos, meus desejos, as minhas alegrias e as minhas esperanças, todas elas, exceto uma: a esperança de me reencontrar com elas no fundo do precipício. Sou uma pessoa cruel e mereço ser punido, onde o meu único crime, foi de nascer neste mundo. Talvez se eu me jogar nesse buraco, nesse poço, nesse precipício, talvez eu deixe as pessoas viverem em paz e felizes. Esse talvez, seja a única coisa boa que fazer para elas, nesse mundo onde somente há pessoas que querem te destruir.

Talvez eu me jogue nesse buraco, seguindo em direção para baixo, apenas para baixo, até beijar o seu fundo, o fundo de um precipício, onde posso mergulhar de cabeça, onde eu não possa me lembrar das dores. Espero que Deus me perdoe, pois assim eu desejo, pois faria isso para a felicidade deles. Mas por outro lado, eu posso não olhar mais para este precipício, eu posso seguir em outra direção. Eu posso simplesmente buscar novos sonhos e valores, buscar novos conhecimentos e sentimentos. Mudar o sentido, buscar o sentido para a minha vida, é assim que pretendo fazer.

Eu não me jogarei mais, eu quero viver, longe dessas cobras e serpentes, longe de cada indivíduo, que acha que tem que decidir sobre a minha vida. Eu não estou preso eles, pois eles nunca se importaram comigo. Vou em busca de meus sonhos. Só lamento não ter que compartilhar com eles. Este não é o meu mundo, mas posso construir o meu mundo, um mundo onde pessoas como eu, não precisem olhar para este precipício, e se jogar. Onde pessoas como eu podem se abraçar e celebrar a alegria de viver, praticando a bondade, vivendo a sinceridade o tempo todo. Infelizmente não é para todos, mas para aqueles que não aceitam fazer parte deste mundo destruidor e hostil.

É essa, a minha motivação a viver, é esse o meu motivo de estar aqui ao mundo. Convencer de que não é preciso viver na hipocrisia, pra ser feliz, pois a hipocrisia é a maior das mentiras. Engraçado que mudamos de direção, quando a vontade, era de mergulhar na morte, no fundo. A morte terá que esperar um pouco, pouco não, vai ter que esperar e muito, pois tenho muito o que fazer aqui. Hoje não quero mergulhar no precipício, mas sei que algumas pessoas merecem ser jogadas lá. E vamos vivendo a vida, longe de olhos moralistas, em busca da felicidade…

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Analista de Sistemas e Escritor

Uma pessoa que está sempre disposta a acreditar nos sonhos, no amor e na felicidade até as últimas consequências. Sou proprietário e editor-chefe do Baú do Valentim.

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