Religião é nada mais que uma religação, o contato entre o homem e o divino, ou seja, a ligação entre o homem e Deus ou qualquer outra divindade que a respectiva religião professa. Nos textos sagrados, como por exemplo a Bíblia Sagrada, vemos curas praticamente impossíveis no campo da ciência, da medicina, sendo executadas apenas com uma simples imposição de mãos ou até mesmo com uma série de palavras, o que muitos a chama de palavras mágicas. Estes atos de cura de fé na verdade, seriam de forma a questionarmos e pormos à prova? Assim como qualquer outra patologia, a depressão, segundo os mais fervorosos seguidores das religiões, pode sim ser curado apenas com um simples ato de fé, com palavras proféticas, ritos ou até mesmo por imposições de mãos, mas assim como todas as outras doenças e patologias, isso deve ser levado à sério.
É verdade, que segundo as sagradas escrituras, de que Deus não ama as doenças, mas ama o doente, não ama o pecado, e sim, o pecador, pois o mesmo amor é capaz de cobrir uma multidão de pecados. Vale entender também que grande parte das doenças e patologias vem da mentalidade da pessoa, ou seja, do cérebro, em vista, vem também da alma da pessoa. Muitos desequilíbrios mentais, emocionais e até mesmo espirituais da pessoa, quando não estão resolvidas, acabam se convertendo em doenças, sendo a mais comum de todas, a depressão. Ainda hoje, por opinião minha chego até questionar o uso de medicamentos para combater a depressão, mas em muitos casos compreendemos que isso se deve ao resultado de desequilíbrio no sistema imunológico, levando ao quadro depressivo até mesmo crônico. Mas será que isso seria necessário em muitos casos? Daí a grande importância do papel do psicólogo no trabalho deste combate à depressão, pois ele é o fator que mostrará uma série de caminho das pedras para vencer a depressão, que é um grande mal social.
A Fé é Inútil?
Dizer que a fé é inútil no combate a depressão é meio que saudosismo demais. A fé em algo importante, que normalmente é uma divindade, uma entidade religiosa ou até em si próprio pode ajudar e muito a vencer a depressão. Existem vários estudos que comprovam que ter fé é um bom motor para combater qualquer tipo de doença e até mesmo o chamado “efeito placebo” tem um fator importante, pois a pessoa acredita que ali está a cura. para a tal doença. Vale lembrar que a cura da depressão vem também pela força do trabalho, pelo hobby da pessoa, pelo que a pessoa tem um grande prazer em fazer as determinadas atividades. É por isso que muitas religiões e entidades religiosas normalmente convidam seus fiéis para trabalhos pastorais de caridade. A caridade, segundo Jesus Cristo, é uma grande prova e demonstração de amor para com próximo. A caridade é um trabalho importante, pois você não está ajudando somente a quem necessita de caridade material, moral ou espiritual, você está também ajudando a si próprio, pois você está crescendo e vencendo as dificuldades que ela própria passa.
A própria Bíblia Sagrada diz na carta e Paulo aos Coríntios, afirma que mesmo que tenha a fé capaz de mover montanhas, uma fé capaz de fazer o céu e a terra trocarem de lugar, ou até mesmo falar a língua dos anjos e dos homens, a mesma fé se torna inútil e de nada tem o seu valor, se ela não vem acompanhada de amor e caridade (ver em I Coríntios 13). Por outro lado observemos também que a fé sem obras, é uma fé morta, segundo diz o Tiago (ver em Tiago 2, 14-26). No fim das contas, é preciso nos sentimos úteis para com outra pessoa, pois do contrário, a vida será uma vida morta, uma vida sem nenhum sentido, pois o que nos dá sentido a nossa vida, o que nos preenche é a pratica do amor e da caridade para com outra pessoa. É por isso que nos ajudamos, quando ajudamos ao próximo, podendo até mesmo vencer a depressão.
O grande problema em questão é que, em grande maioria dos casos, as pessoas mal sabem o que dá o prazer para a pessoa viver a vida, qual o trabalho que dá um prazer e a alegria de viver da pessoa, em outras palavras, ela até não conhece a si mesma, nem mesmo o sentido para a sua vida. Isso porque a pessoa está acostumado a viver uma vida de forma sistemática, formal e linear, sem ao menos questionar porque isso está acontecendo, o porque de tudo aquilo. E com isso, a sociedade, acostumada com a fé mecanizada, com uma série de ritos, orações e preces decoradas, ou até mesmo uma vida linear e mecanizada acaba causando uma grande fadiga emocional para a mesma pessoa. Esta pessoa muita das vezes ouviu de familiares, amigos e até mesmo de escola que tem que estudar, trabalhar e ter um bom emprego, para quando chegar a certa idade morrer. É preciso mostrar que a vida vai muito além de fases e etapas pré-definidas pelo senso comum, pois a vida de uma pessoa jamais será igual a outra.
Dos Preconceitos Religiosos
Como cheguei a comentar em outro artigo que uma das grandes problemas de muitas religiões sobre a depressão, é o preconceito que existe enraizado até mesmo em suas doutrinas e preceitos. A depressão é vista muita das vezes como frescura e até mesmo como motivo de afastamento de Deus da criatura, resultante de sua falta de fé ou até um simples ato de pecado. Como disse no começo, a depressão pode vir de diversos fatores, como arrependimento de ter feito no passado, o sofrimento que tem passado e até mesmo a dificuldade de superar aquilo que está sofrendo, sem poder entender o que está passando. Alguns podem justificar como ato errado pecaminoso e que a mesma pode se arrepender. Mas existe a questão da lei da causa e efeito, que rege sobre todo o universo, onde podemos também responder pelos nossos erros. De um certo ponto, as igrejas pode estar certas a respeito disso, mas é preciso entender que nem tudo é por causa de afastamento de Deus. Claro que a vida é feita de escolhas, mas todos nós temos segundas chances para poder retomar o caminho a qual deveríamos seguir.
O grande problema é que as igrejas e denominações religiosas que ao invés de ajudar o deprimido a se levantar da lama emocional e/ou espiritual em que o deprimido se encontra, as pessoas preferem ainda julgar e apontar os erros e defeitos da pessoa, ou ainda prometendo cura milagrosa e a prosperidade que nem mesmo vai satisfazer espiritualmente a pessoa. Às vezes a pessoa pede a Deus um carro do ano ou um apartamento de luxo em um bairro nobre, mas isso não dará propriamente a felicidade. Muitas igrejas não levam a sério a frase que Jesus disse “pedis e obtereis” (ver em Mateus 6, 5-8), chegando até mesmo abusar, usando a igreja como comércio. Alguns apelam para jejuns, promessas e sacrifícios, para conseguir algo que tanto almejam e até acabam se sentindo muito frustrados e revoltados contra Deus, caso não consigam o que tanto desejam, ou seja, procurando barganhar a graça divina.
Uma pessoa deprimida não é uma pessoa que está longe e distante de Deus, não é necessariamente uma pessoa que decidiu abandonar a Deus. Na maioria das vezes, é uma pessoa que está fatigada demais para carregar seus fardos, ao longo de toda a sua vida. Sim, Jesus disse mesmo no evangelho: “vinde a mim vós que estás cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei…pois meu jugo é suave e meu fardo é leve…” (Mateus 11, 28-30), o que mesmo assim, não é o motivo para aumentarmos ainda mais os fardos. Nós também somos capazes de aliviar os fardos do nosso próximo.
Dos Confessionários aos Divãs
Segundo o Divaldo Franco, os divãs são praticamente a evolução dos confessionários católicos, onde as pessoas vomitavam seus pecados, que na verdade são as dores e as aflições. A Igreja Católica existe ainda o conceito de pecado venial e pecado mortal, pois alguns pecados veniais podem ser inclusive apagados durante o ato penitencial, realizado durante a missa, sem a necessidade de um momento no confessionário com o sacerdote. Mas digo que o pecado é nada mais nada menos que o atentado contra a própria pessoa, como eu disse mais detalhadamente no outro artigo. Os confessionários, por muito tempo, era um grande recurso para se livrar de algo que tanto deixa aflito ou desesperado, em diversas situações que a pessoa vive, principalmente quando a pessoa comete erros graves que atentam contra a sua consciência.
Isso ocorre porque, se a pessoa não acertas as contas com a sua consciência, ela jamais se sentirá em paz e jamais se sentirá feliz, logo a pessoa acabará entrando em depressão, especialmente quando ela se sente presa. Em meus tempos de catolicismo fervoroso, lembro que saía muitas vezes bem leve e alegre, assim como ouvi muitas coisas a respeito do quanto é vantajoso o sacramento da confissão, da penitência. Isso por outro lado é bom, pois você se torna apto a participar da Eucaristia, da comunhão com Cristo e se sentir unido a Cristo. A comunhão com Cristo traz sim boas energias e vibrações para quem participa da eucaristia e se sente em paz consigo mesmo. A doutrina católica por muitos séculos tem ajudado as pessoas a se examinarem e ainda evoluírem moralmente, e acima de tudo, superar suas dores e suas angústias.
Logo digo que os divãs, os consultórios de psicologia, são a evolução dos confessionários. Primeiro, porque os divãs não necessitam estar submetidos a nenhuma doutrina religiosa, segundo, a psicologia e a psicanálise é puramente científico, não teológico, embora o foco é a alma, o espírito, a mente e o bem estar da pessoa. Mas a psicologia continua ajudando o homem a se examinar e a vomitar o que a faz mal, como fazia nos confessionários ao longo de muitos séculos da doutrina católica. Isso permite que se torna abrangente a qualquer crença que o paciente professa, não exclusivamente ao catolicismo, e isto inclui até mesmo o ateísmo. O paciente não procura psicólogo para ouvir as passagens e versículos bíblicos, mas para mostrar o caminho para a felicidade, para o que a torna feliz verdadeiramente, o que vai muito além da fé e da religião.
Onde Houver Trevas, Que Eu Leve a Luz…
“Onde houver tristeza, que eu leve a alegria, onde houver desespero, que eu leve a esperança, Senhor, fazei de mim, o instrumento de vossa paz”, assim dizia Francisco de Assis, um santo católico, que é venerado e respeitado até mesmo fora do catolicismo. É isso que as religiões tem pregado ao longo de muitos milênios, a paz, o amor e a alegria. Nos primórdios, a paz era uma boa colheita, um bom provento para sustentar as famílias, hoje a paz vai muito além de ter alimento e abundância de bens materiais. O próprio Jesus, quando foi tentado no deserto, dizia: “Não só de pão vive o homem” (Lucas 4, 4). Existem coisas muito mais importantes do que ter muitos bens materiais. Quantas pessoas ricas e bem sucedidas, se entregam às trevas da depressão? Quantas pessoas importantes se sucumbiram a depressão, chegando mesmo a cometer suicídio?
As religiões devem ter um importante papel de serem a luz para a vida do deprimido e ajudar o mesmo deprimido a se abrir para a luz e abandonar as trevas, para que ele encontre a paz e ainda mais, ser o instrumento da paz para poder levar a paz para os outros. Eu cheguei a contar que luto incansavelmente contra a depressão, em meio a caríssimas lições que venho tomando, mas não deixo de ser instrumento para paz, primeiramente, ajudando a mim mesmo e aos outros a encontrarem o sentido da vida, e agora conversando sobre a depressão, mostrando como vencer o caminho. Lembremos que não devemos procurar felicidade fora e sim, dentro de si mesmo, pois quando se sente em paz consigo mesmo, quando se encontrar consigo mesmo, é que encontrará Deus, e é ali que estará a cura para depressão.