A Arte da Invisibilidade

Ele está sempre invisível, imperceptível, mas atento a tudo que está a sua volta.
Ele está sempre invisível, imperceptível, mas atento a tudo que está a sua volta.

Quantas vezes você já se deparou com uma situação de estar em uma sala lotada de gente, e mesmo assim, a sua presença nem ser notada? Quantas vezes, você em um grupo de amigos, seja no momento de descontração, seja no momento de diversão ou até mesmo em um compromisso sério, você se sente como se você não estivesse ali, uma sensação de total ausência, de isolamento, em que mesmo que falasse umas duas ou três frases, você imediatamente é ignorado! Quantas vezes você se sente como se fosse o último dos últimos, tanto na vida real, quanto na vida virtual. Você começa a ter sensação de que não está interagindo com ninguém em redes sociais, você fica com MSN o dia inteiro ligado, a semana inteira, sem que ninguém possa de dar um simples “oi”. Você vai a festas, às baladas, assiste todo mundo se divertindo, curtindo a noite, enquanto você parecia um dos seguranças da festa, mas assim como os ninjas, consegue estar atentos a vários detalhes, mas mesmo assim, não é feliz por isso.

Eu confesso que passo por isso com muita frequência e por muita das vezes isso me machuca. Eu fiz muitos passeios solitários, quando na verdade, era para eu estar com alguém. Tudo bem que gostaria de ter uns momentos em que precisava ficar sozinho, mas ficar o tempo inteiro com a solidão, não é uma coisa legal. Dá uma sensação de que você vive dentro de uma bolha, isolado de tudo e de todos, sem a menor possibilidade de contato físico ou verbal, como se você estivesse em uma cidade grande, como Rio de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque, só que apenas você está habitando nesta cidade. É como se ninguém se importasse com você, sem a menor possibilidade de dar um bom dia ou ser importunado na rua por um amigo, ou talvez uma pessoa te veja no supermercado, bem ao lado de você e mesmo assim, te ignorar, como se você realmente não existisse.

Aí você se pergunta: será que estou sendo importante pra ninguém? Será que ninguém se importa comigo? O que estou fazendo aqui? Qual o sentido para a minha vida? Vale mesmo a pena viver, quando ninguém se importa com você? Mesmo em cidades do interior, onde retoricamente, é incomum isso ocorrer, também acontece. Você praticamente não conversa com o vizinho. Aquela clássica imagem do vizinho ir a tua casa pedir um açúcar, e do pedido, acabar em uma boa e agradável conversa, está se tornando coisa do passado. Da mesma forma que não vemos crianças brincando de pique esconde, queimados. Falando em crianças, existem pessoas, como é o meu caso, que sentem essa sensação desde a infância. Uma sensação de que está isolado de todos da escola, uma pessoa sem nenhuma importância, com poucos amigos, que não conversa e pouco fala, pois ninguém foi lá dar um bom dia pra ele. Esses tipos de comportamentos, comuns nas escolas, que poderiam resultar em acontecimentos trágicos, entre outras coisas, formando adulto problemático, não socializável.

Mas porque chamei de “arte da invisibilidade”, se só mostrei até agora, pontos negativos? Porque ser invisível em uma sala de 100 pessoas pode ser vantajoso, para fazer diversas coisas, inclusive coisas que não são de bom grado. Seria uma ótima oportunidade de fazer seu trabalho de formiga e mostrar o seu verdadeiro valor pessoal que existe dentro de você. É como um lindo castelo, que ninguém nota o que está acontecendo, durante a sua construção, mas bem chamativo e atraente, quando o mesmo fica pronto. Quando você se torna atraente, ainda que por alguns segundos, você continua fazendo o seu trabalho para o bem e somente para o bem, mesmo que para isso não seja reconhecido por ninguém. Eu, por exemplo, iniciei o blog que possui anos de existência. Pode não ser um blog de grande reconhecimento, como aquele do Edney de Souza, mas é o meu trabalho de formiga, que de pouco em pouco, mostra o seu valor.

Logo, embora você esteja sozinho em uma sala com 100 pessoas, lembre-se que um pequeno empurrãozinho ou um pequeno suspiro pode fazer uma grande diferença. Ainda que não tenha reconhecimento notório por isso, mas reconheça que se não fosse por aquele empurrãozinho, muitas coisas boas não teriam ocorrido. Sem falar que a invisibilidade também nos dá muito mais liberdade, pois quem é muito visado, não tem tanta liberdade que queria. Que na nossa invisibilidade, nos preocupemos em fazer o bem ao próximo, sem nos preocupar com o reconhecimentos e pompas.

Seguir Fábio Valentim:

Analista de Sistemas e Escritor

Uma pessoa que está sempre disposta a acreditar nos sonhos, no amor e na felicidade até as últimas consequências. Sou proprietário e editor-chefe do Baú do Valentim.

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