Entendendo a Fé de Abraão

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Todo ato de fé é uma loucura?
Todo ato de fé é uma loucura?

Aqui eu vou comentar a respeito de um homem que deu origem às três maiores vertentes religiosas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, ou seja, praticamente toda a base da atual civilização ocidental, além do Oriente Médio. O seu nome, o Abraão, não Abrão, significa pai de muitas nações. E isso não é pra menos, pois as três citadas religiões neste texto fazem parte do cotidiano da maior parte dos países do mundo. Há algumas correntes céticas que até questionam a existência do tal Abraão, mas não é isso que pretendo discutir neste texto, quero simplesmente falar do Abraão, dos seus sucessivos atos de fé, e como isso praticamente mudou o mundo. Não venho falar apenas no contexto religioso, mas no contexto histórico e científico. Abraão foi tão importante que seu nome está associado a toda cultura religiosa do mundo ocidental e também no Oriente Médio, chegando até mesmo a países asiáticos. Dá pra imaginar o quanto a fé deste homem, um simples pastor de ovelhas tenha deixado um legado tão grande que inveja até mesmo reis e imperadores.

Parecia ser errôneo falar que não existia religião antes de Abraão. Sim, existia religião. Na verdade, religião existia desde que o homem começou a procurar razões sobre tudo que ocorre ao seu redor, ou seja, por que que o sol nasce, por que as plantas e os animais nascem, crescem e morrem, o que seriam as tempestades. Antes, o mesmo homem apenas vivia da caça e viviam em cavernas. Foi em um certo tempo que o ser humano passou a observar as coisas e tirar as conclusões. E daí que se surgiu o conceito de Deus. Mas naquela época, normalmente não existia aquela ideia de um único Deus, como normalmente existe nas religiões abraâmicas, mas existiam vários deuses, o que chamamos de politeísmo. Um para o sol, um para a colheita, um para os metais, um para a água, um para o fogo e assim por diante. Naquela época não existia a compreensão de que Deus é a causa de tudo, fato que só foi entendido depois da época de Jesus Cristo.

E assim era a religião predominante na cidade-estado da Mesopotâmia, em que o Abraão vivia, provavelmente as cidade de Ur, dos caldeus, uma religião politeísta cujo os deuses são relacionados a diversas coisas. Segundo a Bíblia, Abraão é da nona geração de Sem, um dos filhos de Noé, que sobreviveu ao dilúvio. Abraão, digo, Abrão, que era acostumado a idolatrar e venerar muitos deuses, tinha uma vida tranquila e normal, até que num certo dia, ele ouve uma voz que diz:

“Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti.” (Gênesis 12, 1-3)

Abrão, sem questionar (segundo diz a Bíblia, pois eu imagino que ele tenha tido dúvidas sim), ele pegou toda a sua família, e junto com ele, partiu para a terra prometida. Ele, seguia praticamente sem rumo, rumo a um local desconhecido, que ninguém imaginava como seria esse tal lugar, nem ideia de onde que seja, enfrentando todo o tipo de perigo no meio do deserto. Simplesmente estavam segundo às ordens de uma certa voz que ouviu, na qual ele a chamou de Deus. Até que num certo dia, Abraão finalmente parou em um certo lugar e disse “é aqui”, ou talvez essa mesma voz, que supostamente é de Deus, disse que este é o lugar da famosa e tão esperada Terra Prometida que o mesmo Deus, representado por esta voz misteriosa. Até aí, tudo bem, mas tem um pequeno detalhe: aquela terra prometida que Deus, ou seja, a voz misteriosa disse a Abraão, tem dono, ou seja, habitada pelos cananeus. A Bíblia não mostra isso claramente, pois é impossível que aquelas terras férteis fossem inabitadas, principalmente por estarem próximas à grande potência mundial daquela época: Egito. E falando em Egito, houve uma fome e miséria na grande Terra Prometida, escolhida por Deus, de onde eles foram para o Egito. Alguns religiosos podem afirmar que seriam uma provação, pois seria muito curioso o Abraão sair de sua terra com toda a sua família, para poder passar a fome, o que não seria bom.

No Egito, o faraó se apaixona pela esposa do Abraão, a Saraí e a toma como esposa. Mas o curioso é que isso é a garantia de que o Abraão não seja morto, por conta da grande beleza da Sara, afirmando a todos que é sua irmã, não esposa. Sendo assim, Sara foi ao palácio do faraó e favoreceu o Abraão. Ao desposar-se do faraó, Deus castigou o faraó, causando enfermidades extremas, deixando muito doente. Desesperado, o faraó mandou que o Abraão deixasse o Egito, levando consigo, todos os bens. O livro dos Jubileus afirma que seria mais uma prova de Deus a Abraão, apesar que a Bíblia não diz nada a respeito. Parece que as “loucuras” de fé de Abraão passaram a trazer bons resultado, pois o mesmo Abraão estava sujeito a todo o tipo de riscos, até mesmo de morrer. Imagine o tamanho risco que ele passou a ponto de até mesmo oferecer sua esposa ao faraó. Retornado a Canaã, o povo se prosperou, e com o passar o tempo, houve uma grande desavença entre Abraão e Lot, e os dois se separaram.

O tempo foi passando e Deus faz uma aliança eterna com Abraão, confirmando mais uma vez que sua descendência seja mais numerosa que as estrelas do céu, e logo em seguida, veio os atos de Melquisedeque, confirmando a aliança de Abraão, o que confirma o que acabei de dizer no início deste texto. Depois ele passou a ter um filho com Ismael, com uma escrava, oferecida pela Sara. Depois vieram acontecimentos, como a famosa destruição de Sodoma e Gomorra e a instituição da circuncisão. Finalmente, com pouco mais de 100 anos de idade, Abraão se torna pai de Isaac (Isaque), de Sara que era uma mulher estéril. E mais tarde como sua prova de fé, Abraão esteve disposto a sacrificar seu próprio filho, mas este sacrifício foi interrompido pelo próprio Deus, que o abençoou, como figura a imagem em destaque neste texto.

Todos estes acontecimentos mostra uma grande relação de fé e loucura. Analisando bem, uma pessoa normal, acharia que Abraão é um homem louco. Como um homem, já idoso (ele tinha 75 anos de idade naquele momento), decide sem mais nem menos pegar toda a sua família, inclusive as crianças, tudo o que tem, para um lugar desconhecido, só porque ele ouviu uma voz, e passando por todo o tipo de riscos, inclusive passando fome em um lugar desconhecido? Como pode uma pessoa oferecer sua esposa a uma outra pessoa para poder sobreviver? Como pode uma divindade que guiou uma família a ponto de castigar toda uma nação por conta de ato desesperador de Abraão? Como pode um homem oferecer seu próprio filho em sacrifício? E você faria o mesmo? Esta é uma série de perguntas sem respostas que deveremos refletir sobre a tamanha confiança a ponto de ser cega, mas era grande a sua recompensa: hoje ele é considerado um grande pai das nações.

Em meio a tantos questionamentos, que poderemos entender que há uma linha muito tênue entre a fé e a loucura. Se o Abraão vivesse nos dias de hoje, haveria muita gente, inclusive as autoridades, querendo internar em uma clínica psiquiátrica, ou até mesmo matá-los pelo ato de loucura. Aos olhos da sociedade de hoje, se o Abraão não tivesse aquele todo misticismo religioso, explicitado pelos livros sagrados e pelas próprias religiões, ele seria constantemente chamado de louco. A fé de Abraão é uma questão muita das vezes controversa para os céticos, justamente por atos de loucura, o que muitos a chama de fé. Mas falo em fé em ouvir a voz suprema, que faz a pessoa cometer loucuras, sendo confiante de que tudo dará certo. Eu digo que a história de Abraão é uma forma de dizer que com Deus, tudo dará certo, pois ele é sempre conosco. Mas lembremos que muitas pessoas, ao longo da história, tentaram repetir os feitos de Abraão, e enfim não foram bem sucedidos. Há que chegam a ser lendárias estas histórias. Mas se compreendemos bem, e termos a famosa fé de Abraão, a ponto de sermos chamados de loucos pelo mundo, chegaremos as felicidade que tanto desejamos, pois são os loucos que conseguem ser felizes e mudar o mundo, não podendo nos prender às regras do nosso cotidiano, pois se ele existiu ou não, eu falo que foi muito importante para a história da humanidade, pois deixou um legado que posso dizer que é inquestionável.

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Analista de Sistemas e Escritor

Uma pessoa que está sempre disposta a acreditar nos sonhos, no amor e na felicidade até as últimas consequências. Sou proprietário e editor-chefe do Baú do Valentim.

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