O Cara

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Em um dia normal, como outro qualquer, um cara levanta de sua cama, entra no banheiro, lava a sua cara e parte para sala de jantar para tomar o seu café da manhã. Logo de cara, ele acompanha as novidades do dia, anunciadas pelo jornalista que usa aquela roupa cara. Ele ficou com a cara de preocupado, ao assistir a notícia do grande engarrafamento na Avenida Brasil, deixando sete feridos na altura de Manguinhos. Logo depois, ele se arruma, sai de de sua casa para o trabalho, o cara caminha ao ponto de ônibus. Mas ele assiste o seu ônibus partindo do ponto, ficando com a cara de quem comeu e não gostou. Ele logo pensou: “com que cara vou chegar ao trabalho para explicar para aquela cara de lesma do meu chefe”? O próximo ônibus chega atrasado e o motorista teve a cara de pau de dizer que tem menos frota hoje por causa do engarrafamento. Durante a viagem, quando estava fazendo um cara e coroa mental, apreciando a paisagem da selva de pedra carioca, uma cara senhora senta ao seu lado e abre a revista Caras para ver a fofoca do dia.

Ele chega atrasado ao trabalho com aquela cara e encara o seu chefe com a cara grande ao ver o seu funcionário fanfarrão. Ele logo pediu desculpas e deu a justificativa. Mas ao chegar ao seu posto de trabalho, ele não mediu esforços em exaltar para si mesmo e dizer: “Eu sou o cara“. Só que o cara não imagina o que se espera para o dia de hoje. Minutos depois, o chefe, com a cara raivosa, pede para ele entregar os documentos para um escritório de uma empresa de petróleo. No caminho, ele para na lanchonete e por pura sorte, senta uma linda morena de excitante silhueta que pede um cafezinho. O cara não perdeu tempo e deu umas cantadas, dando uma de Vinícius de Moraes. A morena não deu bola, jogou palavras de canivete e deixou o nosso amigo com a cara no chão. Depois disso, ao chegar ao escritório, ele respira fundo e volta a ficar com a cara limpa e com muita vergonha na cara. Ele deixa o documento na recepção e decide ir embora, sem ao menos dar um bom dia para a recepcionista. Na volta, ao entrar no elevador, ele dá de cara novamente com a morena que a viu na lanchonete. Os dois ficaram cara a cara imaginando infinitas possibilidades do que pode ter acontecido naquele lugar. A morena logo não perdeu tempo e virou a cara para aquele sujeito ainda sem graça. Mas ainda mal imagina o que pode vir pela frente e se exalta novamente afirmando que é O Cara. Mas para ser um cara é preciso muita cara e coragem para ficar dizendo estas coisas por aí, não é? Mas infelizmente nem todos pensam assim, nem mesmo esse cara da qual estamos falando.

Daí, ao voltar da empresa de petróleo, a cara de lesma do chefe, com a cara de que vai fazer uma coisa drástica, o jovem rapaz nem imagina qual a cara com que ele deve aparecer para dizer algo. Felizmente ele recebe outra tarefa: a de entregar o dinheiro ao contador. No caminho, ele pára em um grupo de pessoas, se aglomerando no Largo da Carioca. Para matar a sua curiosidade, ele nem perdeu seu tempo e viu que era um homem que estava brincando de Cara e Coroa e existem muitas pessoas fazendo apostas. Quem acertava o lado da moeda, recebe o dobro da aposta. Ele pegou os dez reais do dinheiro (que seria entregue ao contador) e resolveu apostar. Então o apostador perguntou: cara ou coroa. Ele logo respondeu: “Cara“! Mas a moeda caiu na coroa. Revoltado e injuriado por ter perdido o dinheiro que não era dele, o desespero logo invade logo a sua cara. Para tentar recuperar ele deu mais dez reais e jogou coroa, mas desta vez deu cara. E o desespero torna a sua cara ainda mais pesada. Mesmo assim, continuou apostando, tentendo recuperar, até que acabou com todo o dinheiro e não teve mais nada para apostar. E novamente ficou com a cara arrastando no chão até voltar na maior cara de pau de dizer que foi assaltado no meio da rua e perdeu todo o dinheiro. A palavra “Justa Causa” tomava conta ainda mais de sua mente aguçada e perigosa…

Apesar de tudo, o cara se deu bem e volta para sua casa como se nada tivesse acontecido. Pela cara, já demonstrava a consciência pesada de ter apostado todo o dinheiro. De cara lavada, ele dá um passeio, paquera as vizinhas da rua, faz a sua refeição noturna e põe a cara no travesseiro para poder tentar dormir com a carinha de anjo.
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Analista de Sistemas e Escritor

Uma pessoa que está sempre disposta a acreditar nos sonhos, no amor e na felicidade até as últimas consequências. Sou proprietário e editor-chefe do Baú do Valentim.

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